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terça-feira, 7 de agosto de 2012

A Grande Mão - excerto 4

Quando os primeiros raios de sol se espalharam pela terra seca do Grande Mão, tingindo-o de um dourado pálido e frio, já encontraram Nolan e os companheiros muito longe e o acampamento em grande alvoroço. O alarme soara quando, na mudança de turno, os dois homens, o que terminava a sua ronda e o que vinha rendê-lo, entraram na cavalariça para verificar que tudo estava bem. Encontraram a baia de Tinta vazia, bem como o gancho de onde deveria estar suspensa a sua sela.
 Uma busca pelo acampamento e na povoação revelaram a espantosa ausência do jovem tratador, que revelara um inesperado atrevimento ao roubar o garanhão especial do Chefe. Mais extraordinário ainda era o desaparecimento de Eirina, filha de Yong, de Patron, seu amigo, e das suas habituais montadas. Em breve começou a dizer-se à boca pequena que tinham escapado juntos. As marcas de cascos de três cavalos eram nítidas à entrada do povoado, onde pareciam ter-se encontrado, dirigindo‑se depois para o deserto.
Assim que a fuga fora descoberta, Yong e o Corvo tinham-se apresentado perante Torsten, que os fitara com uma fúria gelada.
- O que eu gostaria de saber... – perguntou, assim que os dois entraram – é como é que uma coisa destas pode acontecer debaixo dos vossos narizes.
Yong baixou a cabeça. O Corvo estava furioso. Rosnou:
- O rapaz devia estar a planear isto há muito tempo. Cometi um erro, vou repará‑lo.
Yong não disse nada. Estava demasiado envergonhado com a desfaçatez da filha, e suficientemente enfurecido para a desfazer com as próprias mãos, se a apanhasse à sua frente. Torsten tamborilou na mesa, passando os olhos pelos papéis espalhados sobre ela. Depois, o seu olhar voltou a fixar-se nos seus homens de maior confiança.
- Este... erro, foi assim que lhe chamaste? Era a última coisa que poderia esperar de homens com a vossa experiência.
Yong ia abrir a boca, para anunciar que tinha guardas a postos, à espera das suas ordens para partir na peugada dos fugitivos. A manhã ainda mal tinha nascido, e eles não podiam estar muito longe. Mas o Corvo adiantou-se-lhe. Aproximou-se da mesa e pousou a grande mão tatuada sobre os mapas riscados de vermelho, inclinando-se para a frente para declarar:
- O filho da puta levou o meu cavalo. Tenho homens prontos para partir e não mostrarão misericórdia.
Fez-se um silêncio de breves segundos. Yong estava esgasgado com a vergonha e a fúria, a traição que nascera no seio da sua própria família e ameaçava a sua posição, conseguida a pulso. Devia ter estado atento. Devia tê-la casado mais cedo. Devia...
- Concordas com isto? – perguntou Torsten, dirigindo-se a ele.
Não, não concordava. Desejava ser ele a encontrá-la, trazê-la pelos cabelos e entregá-la, conforme prometido, ao castigo de um casamento altamente lucrativo. A sombra de remorso no fundo da sua alma era fácil de apagar, se tivesse em conta a humilhação a que Eirina o sujeitava. Mas o Corvo era irmão do Chefe, tinha os seus próprios soldados, experientes e sem escrúpulos. Também lhe tinha sido roubado algo valioso, sofrera tanto como ele a vergonha de ter sido enganado. Que remédio tinha Yong senão concordar? Agastado, o General assentiu. Torsten endireitou-se e respirou fundo.
- Muito bem. – declarou para o Corvo. – Então há uma coisa que deves saber.
pag 156


3 comentários:

Olinda Gil disse...

Quando leio os teus textos fico ansiosa por ler o teu romance ;)

Carla M. Soares disse...

Que bom!
Mais 100 páginas de revisão e um mapa, and it's ready to roll!
Em ebook, uns dias gratuitos aqui, e depois veremos se sei pôr isto na amazon por um valor razoável. E (suspiro)depois ainda vou ver se tenho coragem para a tradução.

Cristina Torrão disse...

Esta cena é cheia de tensão, pede mais ;)