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quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Grande Mão - excerto 6

Hoje, para além de mais um excerto, tenho uma pergunta a que gostava que respondessem, uma vez que não sou artista gráfica nem percebo nada de photoshop:
o que vos parece esta capa improvisada?
Atraente? Pavorosa? Demasiado escura? Nem se pecebe o que é?
Digam de vossa justiça.  

   Estavam no cimo da encosta, que descia numa inclinação agreste. Um pouco para a direita, brotava das rochas um regato estreito, que provavelmente morria, pensou Nolan,  ali mesmo na montanha. Descia em cascata, entre rochas, acumulava-se numa lagoa de formato impreciso e cavava, para a direita, um leito duas vezes mais largo do que ele, por entre pedra partida e vegetação pobre e escura.
   - Olhem para isto. – comentou Eirina, sem fôlego.
   - Este já foi um grande rio, de certeza. Deve ter perdido força com o tempo.
   - Foi a seca. – considerou Eirina – A que criou o Mão. Já houve lá uma floresta, mas, com dez anos de seca constante, a mão estendeu os seus dedos de areia e devorou tudo num...
   - Estás muito poética. – interrompeu Patron – Vamos mas é andando, que quanto mais depressa daqui sairmos, melhor. Não gosto disto.
   Nolan tinha os olhos fixos no ribeiro. Deslizou-os pelas escarpas, a da esquerda duas vezes mais alta do que a da direita, e mais íngreme, olhou para o céu cinzento sobre as suas cabeças. Estremeceu.
   - É um lugar estranho.
   - Muito estranho. Tens a certeza de que não há outra opção? – lamentou-se Patron.
   - Desmontem. – ordenou Eirina, em resposta – É mais seguro. Vai à frente, Nolan, que o Tinta guia os outros.
   Não havia um carreiro que pudessem seguir, um percurso fácil. Nolan foi escolhendo o caminho menos mau, cheio de cautela, com grande receio de escorregar numa pedra e levá-los todos atrás, aos companheiros e aos cavalos agitados. Como ele, também os animais pressentiam algo de impalpável e perturbador no lugar, e resistiam, em protesto, tornando ainda mais demorada e dolorosa a descida. Eram obrigados a parar constantemente, para lhes falar, acalmá-los, mais vezes ainda para pensar onde pôr pés e cascos para mais um passo.  
   - Nunca mais! – soprou Patron, quando por fim pararam na margem do regato, para se acalmarem e descansar – Tu nunca mais me convences a meter-me em coisa nenhuma.
   Eirina teria respondido, se tivesse fôlego para isso e não estivesse arrepiada de frio e horror. Patron estava tão empenhado naquilo como ela, estivera sempre, e tinha feito com ela todas as escolhas, mas, neste momento, quase lhe dava razão.
   - De ci-ma, não pa-parecia tão mau. – acabou por arfar, enrolando as rédeas de Fogo numa segunda volta em torno do pulso. A égua ameaçava empinar-se, desatar a correr, fugir sem ter para onde – Se calhar, tinha sido melhor ir pelo Mão.
   - Deixa-te disso, Eirina. Já estavamos todos nas mãos do Torsten ou mortos. – contradisse Nolan, impaciente – Vamos andando. Não podemos voltar atrás e os cavalos estão impacientes.
   Sentia Tinta tenso e atento, o olhar inteligente captando tudo e voltando-se depois para ele. Parecia perguntar-lhe o que faziam ali, naquele vale mergulhado numa sombra fria e permanente. Ele próprio estava inquieto, com o coração apertado e uma necessidade desesperada de proteger tudo e todos que lhe vinha de lado nenhum. Ou talvez da sua runa, que aquecia como fogo e gelava como neve, num aviso intermitente, como se ela prória não conseguisse decidir se havia perigo. O lugar era estranho, vazio. Por muito que desdobrasse os sentidos à procura de uma vibração, a terra não lhe transmitia nada, como se fosse um lugar sem alma.
   Talvez seja só porque a natureza é tão sombria, pensou.

pág 270-71

4 comentários:

Anónimo disse...

Muito sinceramente? A capa é horrenda e não se percebe o que é lool só comprava o livro se olhasse o suficiente para ver o teu nome lá escrito.

P.S. Os excertos são do próximo livro?=p

Carla M. Soares disse...

Ehehehe.
Girlinchaiselong, a capa é um improviso para uma história de fantasia que vou colocar em ebook, para beta-reading, aqui no blogue. Vai ficar um link no GoodReads, e há lá uma sinopse também muito improvisada. Estou a acabar de revê-lo e, para esta versão 'experimental, vou fazer apenas umns pequenos ajustes na capa. Se quiseres ler em pdf ou outro formato equivalente, é só estar com atenção.
Se ficar mais sério, penso melhor na capa, prometo. :)

Cristina Torrão disse...

Em relação ao excerto: os animais não se costumam enganar, o lugar deve ser mesmo perigoso...

Em relação à capa: encontro-lhe charme, mas eu sou suspeita, gosto destas pinturas românticas, "obscurecidas". Não sei é se terá a ver com o conteúdo do livro, eu identificava-a mais com um romance de época.

Anónimo disse...

Vou estar com atenção, prometo!!=D