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sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A Grande Mão - excerto 3

     Nolan vira-o pela primeira vez algumas horas depois da conversa com Torival, quando já tivera oportunidade de observar cuidadosamente tudo o que o rodeava. Chegara à conclusão de que seria fácil escapar, os saqueadores ignoravam os rapazes quando não precisavam deles. E Nolan conhecia todos os caminhos do bosque melhor do que qualquer pessoa, mas mesmo que os não conhecesse, parecia-lhe sempre que as plantas e os animais escolhiam e lhe apontavam o melhor trilho. Os Corvos tinham magníficos cavalos, como Nolan nunca vira, que podiam dar-lhes vantagem se não fosse o arvoredo denso onde não era possível galopar. No entanto, não podia fugir. As palavras de Torival martelavam-lhe no espírito, e um espinho de dor e arrependimento temporão enterravam-se nele sempre que um dos jovens prisioneiros entrava no seu campo de visão. O Corvo transformara‑os numa só entidade escravizada. E ele, mera roda na engrenagem, não podia escapar.
     Matutava na ideia, olhando-a de todos os lados à procura de uma saída, quando o Chefe que se aproximou. Era um homem temível,  possante. Nolan era mais alto, mas a sua figura emanava uma aura de poder que o engrandecia, e, por momentos, sentiu‑se pequeno. O Corvo parou à sua frente. Nolan pensou, por um instante, que devia levantar-se.
      Não. Que me matem, se quiserem.
     Ficou onde estava, sentado numa pedra, e levantou os olhos para o homem. Fitava-o, em silêncio,  com uma expressão de fadiga irritada. Em vez de parecer uma mulher amuada, dava um ar duro. Nolan sabia que era assim. Era igualmente implacável com os prisioneiros e com os seus homens. Nolan foi o primeiro a desviar o olhar, incomodado pela natureza impiedosa que neles encontrava, mas o Chefe continuou de pé, à sua frente, mesmo depois de Torival se ter aproximado.
     - Este vai dar-nos chatices, Chefe. – disse o homem com a cara de pássaro.
     - Hum.
     - Acho que não deviamos ficar com ele.
     - Hum.
     Hum, o quê?, irritou-se Nolan, cerrando os lábios com força. Se abrisse a boca, levava, no mínimo, outra pancada na cabeça. Ou o Chefe concorda e acabam comigo.
    - Diz que conhece bem a floresta e que não o encontravamos se quisesse deaparecer. – riu-se – Mas de noite faz mais barulho que uma briga de doninhas.

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