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terça-feira, 31 de julho de 2012

A Grande Mão - excerto 2

Ouviu o som abafado de uma pancada, seguido de um ai! e de um palavrão.
- Fica calado, Tullock. – murmurou, rangendo os dentes.
Respirou fundo e espreitou. Era pior do que pensava. O amigo era empurrado por uma pequena multidão de homens e mulheres. Algumas pessoas tinham armas improvisadas, paus, pedras, forquilhas, até vassouras, que usavam para o incitar a avançar rua abaixo, espetando-o nas costas com elas. Tullock obedecia, com gestos de coelho assustado. Segurava o braço esquerdo junto ao corpo e sangrava copiosamente do nariz e do sobrolho. As suas roupas estavam manchadas de sangue e lama, como se tivesse sido atirado ao chão e arrastado. Mesmo assim, resistia quando o empurravam, provocando novos insultos.
- Anda, miserável. Mexe-te.
Um dos homens pregou-lhe uma paulada valente nas pernas, logo acima dos joelhos. Tullock vacilou, aguentou-se de pé.
- Vais levar uma mensagenzinha ao teu chefe.
- Mas eu não...
- Bandido!
Uma mulher avantajada deu-lhe um empurrão que o lançou de borco para o chão. Tullock gemeu e ficou quieto, encolhido sobre si próprio. O grupo rodeou-o, obstruindo a visão de Nolan. Por momentos, não soube o que fazer. Não sabia como enfrentá-los, eram tantos, e irados. Mas não podia abandonar o amigo.
Apesar de, provavelmente, ele ser o culpado do seu azar.
Baixou-se mais para espreitar por entre a floresta de pernas. A muito custo, Tullock sentara-se. Uma mulher pequenina, com a cara engelhada, baixou-se de repente, mais ágil do que a sua idade faria prever e, no instante seguinte, uma pedra voou. Tinha excelente pontaria. A cabeça de Tullock foi atirada para trás quando a pedra lhe acertou na fronte, o corpo franzino estremeceu. Gemeu e deixou-se cair de lado, desaparecendo novamente entre as pernas.
Vão apedrejá-lo? O que é que eu faço?
- Por favor – gemeu Tullock – Eu não fiz nada! Não sei quem é esse Corvo. Não sei, juro.
Pareceu a Nolan que Tullock tinha acabado de dar um sinal de que a populaça esperava. Cairam sobre ele, enraivecidos, numa trovoada de gritaria e movimento. Filho da puta, bandido, assassino, repetiam-se por entre invectivas mais imaginativas. Ruídos abafados de botas e tamancos no corpo mole, pontapés e murros e uma pedra ocasional, e nem um som, um grito ou um gemido de Tullock se ouviu. Nolan entrou em pânico.
- Matem-no! Matem-no!
- Deem cabo dele! Ladrão!
- Assassino! Bandido!  
Paus e pás ergueram-se bem alto e desceram com violência sobre o amigo. Continuava a não conseguia vê-lo, mas parecia-lhe que não se movia. Imaginou-o enrolado numa bola, os braços protegendo a cabeça, os joelhos contra a barriga. Pelo menos esperava que sim.
Vão linchá-lo, concluiu, desesperado. Matam-no se eu não fizer nada.
pag.38

1 comentário:

Unknown disse...

Realmente, com a formatação certa fica bem diferente :)