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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Não gosto disto!

O livro que ando a (tentar) ler há dias, Quero-te Muito,  de Frederico Moccia, está a custar-me bastante. Não que seja difícil de ler, mas não me chama. Não sinto o seu apelo, nem de dentro da minha mala nem no lugar onde o pousei no sofá, à espera que me apeteça.  

Pus-me a pensar nos motivos e descobri que são muitos.
1. até aqui, a história não me diz nada. acompanho o dia a dia de um rapaz chamado Step, recém regressado de um período de 2 anos nos 'estates', onde foi fazer um curso. Percebi que os pais estão separados, que morreu o melhor amigo, que perdeu uma namorada de quem gostava, e que os amigos são... não sei o que são. Putos briguentos? Jovens normais? Sei lá. Há alcool, drogas, sexo, um pouco de velocidade, murro a gosto. Há outras coisas, relações familiares complicadas ou não, não consigo segurá-las. Não sei. Também se acompanha aqui e ali outra acção, de outra personagem, mas nenhumas delas me encheu as medidas.

2. as personagens ainda não me 'agarraram', talvez porque sei muito do que fazem, mais ainda do que dizem, e que disparates fazem e dizem!, mas pouco daquilo que pensam, apesar do livro estar na primeira pessoa. Várias primeiras pessoas. A mais de 25% do livro, mal as conheço, e o que conheço não gosto. Não gosto do que fazem. Exemplifico com uma cenazinha no restaurante que me deixou à beira de uma apoplexia, de irritação (atenção, a linguagem é explícita):
"Observo-os enquanto comem. nada. Não mudaram nada. São um espectáculo. Vão-se empanzinando como de costume, com tudo o que acaba de chegar, mergulham comos garfos no guisado, no presunto, no salame. (...) E aí voa uma salsicha. Gin apanha-a no ar, com a mão direita, óptimos reflexos e, ainda por cima, ainda quente, trinca-a.
- Então? viste que velocidade? Aposto que te fiz lembrar um filme, vá, espreme lá os neurónios...
- É verdade, lembrou-me qualquer coisa, uma cen de um filme, mas que filme?
- Eu ajudo-te, vá lá, é a históri de uma prostituta; aliás, mais do que a história, é a fábula de uma prostituta. - Entra Lucone, exagerado como sempre.
- Já sei: Branca de Neve e os Sete Caralhos.
(...) Porém, precisamente nesse momento, pum! A Gin leva em pleno rosto com uma fatia de pão molhada. Explode-lhe na face e há bocadinhos de miolo que lhe vão parar ao meio dos cabelos. Não posso deixar de me rir. Lucone pede desculpa de longe.
- Oh desculpa, caralho, era dirigida ao Step."

E como acaba esta linda cena? Há luta generalizada de comida, que atinge as mesas dos outros clientes, desgraçados, a dita Gin sobe para cima da mesa com o outro atrás, a dançar, um prato é pontapeado e atinge a cabeça de uma senhora, e o grupo sai ainda a fazer confusão e a incomodar e agredir os clientes. O dono finge-se zangado, mas não está. 
WTF? Desculpem, não engulo com facilidade. Este livro é, para mim, como um desses filmes de putos idiotas armados em duros, a fazerem porcaria e a desrespeitarem este mundo e o outro, que me fazem mudar logo de canal.
3. Também não gosto do estilo de escrita, já se percebeu porquê. Talvez fosse simples de ler, já que o português, traduzido do italiano, não tem nada de complicado, menos ainda de poético ou erudito. Mas, para mim, não é. Transita-se constantemente de uma cena para outra, de uma primeira pessoa para outra, até em parágrafos seguidos. E, mesmo assim, se se conhece às personagens um pouco, é pelo que dizem e/ou fazem - e nesse caso, como já se viu - não gosto delas.  Descreve-se toda a acção, em pormenor. E dispenso o palavrão a torto e a direito. O texto não é bonito, os diálogos são crús, mas não atraentes, não há ironia ou humor (embora haja gente armada em engraçadinha).

Dizem que à terceira é de vez. Esta é a minha segunda tentaiva com este livro,  pode ser que tente uma terceira vez. Mas, com tanta coisa que tenho por casa para ler, para quê insitir no que não apela? Leio-o quando não tiver mais nada. Paciência.




5 comentários:

Célia disse...

É italiano, Carla, são muito diferentes de nós. E olha que não é assim tão fácil traduzir, porque eles têm com cada expressão! Por ex., eu adorava os livros da Sveva Casati porque o diálogo era estranho, diferente. Esse "estranho" é o que resulta da tradução do it-pt.

Cumprimentos,

Carla M. Soares disse...

Sim, eu sei, mas a minha aversão não é da tradução porque, embora por vezes se 'note' o italiano, não me parace má. É o livro em si. pode ser o momento errado para lê-lo, ou simplesmente posso jamais gostar do género. Também não gosto deste género em filme, não é nem suficientemente louco (pulp fiction crazy) nem irónico, nem bonito ou tão feio que exerça o efeito atração do abismo...

Sandra disse...

É uma chatice quando isto acontece :(

Cristina Torrão disse...

Pela amostra, acho que também não ia gostar.

Carla M. Soares disse...

é, eu parei. veremos se alguma vez volto a pegar-lhe, por teimosia. só que com tanto livro interessante, de tantos tipos diferente, não sei se valerá a pena.