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terça-feira, 26 de junho de 2012

Mulheres na escrita

Há agum tempo, em troca de emails com o responsável pelo marketing do meu livro, chamou-me a atenção um comentário dele, relativo à maior dificuldade de colocar no mercado, com seriedade, uma escritora (mulher, portanto) do que um escritor.
Nesse momento, fiquei um pouco perplexa, mas a verdade é que não é preciso pensar muito para confirmar que também aqui parece existir um tecto de vidro: há pelo menos tantas mulheres a escrever como homens (se não mais), pelo que é inevitável que algumas o façam com qualidade, mas os grandes nomes, os nomes premiados, os nomes reconhecidos, são na sua maioria masculinos. Os que mais vendem também.

Tive esperança, claro, de ter alguma sorte e da minha editora ter um 'bom músculo comercial', para colocar bem no mercado um livro de uma estreante e, ainda por cima, mulher. Infelizmente, parece ser sinónimo de coisa feia. Num aparte, tive recentemente a felicidade de receber uma foto, mostrando o meu livrinho numa montra no aeroporto Sá Carneiro, no Porto, ao lado de livros do José Rodrigues dos Santos e do Miguel Sousa Tavares. Fiquei contente por ver o meu pequeno ao lado dos best sellers nacionais (bem conhecidos e... homens!) Não equivale obrigatoriamente a qualidade, nem do meu livro nem dos deles, mas alguma visibilidade talvez lhe dê uma oportunidade para ser lido, e a mim para, depois do muito que tenho aprendido, voltar a publicar.
Hoje calhou dar com este artigo da HARPER'S MAGAZINE online e voltei a pensar no assunto, de uma forma menos pessoal, que começo a ficar cansada da ansiedade inerente à estreia como autora. É muito maior do que alguma vez imaginara, entre 'vende ou não vende?', 'que opiniões terá?'. E, desde esse email, 'será que por ser mulher vai ser tudo mais difícil?!'

O artigo chama-se Scent of a Woman's ink: are women writers really inferior?  A realidade é americana... mas não só. Aqui ficam um excerto, o link, e uma certa revolta.


"Most books are bought by women, who tend to read novels by female authors. One of our two living Nobel laureate novelists is an African-American woman. Women edit major magazines — The New Yorker, The Nation, The New York Review of Books — aimed at readers of both sexes. Women are top decision makers at America’s ten biggest commercial publishing houses. And male editors, writers, and academics will be the first to tell you that they read and publish and teach writings by women as well as by men.
So only a few paranoids (readers with a genuine interest in good writing by either gender) may feel that the literary playing field is still off by a few degrees. Who else would even notice that in this past year — which saw the publication of important books by Deborah Eisenberg, Mary Gaitskill, Lydia Davis, and Diane Johnson — most of the book award contests had the aura of literary High Noons, publicized shoot-outs among the guys: Don DeLillo, Philip Roth, Thomas Pynchon, and Charles Frazier, author of Cold Mountain, a sort of Civil War Platoon? Of course, not even the most curmudgeonly feminist believes that accolades or sales should be handed out in a strict fifty-fifty split, or that equal-opportunity concessions should be made to vile novels by women. But some of us can’t help noting how comparatively rarely stories by women seem to appear in the few major magazines that publish fiction, how rarely fiction by women is reviewed in serious literary journals, and how rarely work by women dominates short lists and year-end ten-best lists."
excerpt, by Francine Prose




4 comentários:

Cristina Torrão disse...

É um facto que há muitos mais homens agraciados do que mulheres. Haverá mais escritores do que escritoras? A Maria do Rosário Pedreira, responsável, na Leya, pelos novos autores, disse, no seu blogue, que apenas 10% dos originais que recebe são da autoria de mulheres.

E será que os leitores/compradores realmente confiam mais num livro escrito por um homem? Custa-me a acreditar, mas...

Carla M. Soares disse...

Não sei se há mais escritores que escritoras, mas não consigo deixar de pensar que talvez na arte aconteça o mesmo que na maioria dos sectores: há muitas mulheres competentes, mas it's a man's world.
Espero estar enganada, não pelo meu livro, que há de ter o seu lugar e não é para prémios, mas por todas nós, as que escrevem e as restantes.

Madrigal disse...

sem ter lido o artigo da Harper eu diria que as mulheres são, de uma maneira geral, associadas ao género chick-lit... talvez porque o género é lido e escrito essencialmente por mulheres, torna-se dificil quem escreve de forma séria ser tomado a sério.
Infelizmente nestas coisas toma-se tudo pela mesma medida e muitas vezes mulheres são apenas criaturas que escrevem romances lamechas, super romanticos. Se for um homem de certeza que é uma grande história de amor.

Olinda Gil disse...

OMG, nem sei que te hei-de dizer. Não passa de preconceito... e contudo, ele existe e está aí a dar os seus resultados :(