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sábado, 12 de maio de 2012

A Chave Invisível (Teatro)

Quem está no Porto ou arredores e não foi à Academia de Música de Val Paraíso entre 5 e 13 de Maio perdeu uma belíssima experiência. Vá, ainda há uma pequena hipótese de, sem reserva, conseguirem um dos (apenas) 30 a 40 lugares disponíveis para assistir à... peça? experiência?  

Fomos, a família toda, de Lisboa ao Porto, a convite do diretor musical Bernardo Soares e da actriz Isabel Carvalho, para assistir à peça. Valeram a pena os quilómetros.

Chama-se A Chave Invisível e foi pensada e encenada por Lee Beagley, com um conjunto de actores e músicos, na sua maioria jovens, e um pequeno grupo de crianças da Academia. A sinopse diz:

Uma viagem através de uma casa assombrada, por muitas personalidades e por inúmeros momentos musicais. A casa tem sido um lar para aqueles que regressam com o ritmo de outros lugares e para aqueles que partiram na procura de uma nova vida. Aqueles que querem cantar uma nova canção. Um homem regressa do Brasil, uma rapariga de mercado torna-se condessa, um padre ama demasiado a música, a sua irmã torna-se exilada e uma Portuguesa volta dos seus estudos musicais em Paris para se tornar Professora na Academia: há muitos segredos trancados na casa…

Uma noite alguém força a entrada… os que estão dentro querem sair, os que estão fora não conseguem encontrar a chave certa.

O encenador Lee Beagley conduz talentos teatrais emergentes do Porto através de uma viagem incomum, cómica e misteriosa. Uma jornada musical através de memórias, esperanças, lágrimas e sorrisos. 


Mas diz pouco, a sinopse, desta experiência que começa na rua, em frente de uma velha casa abandonada (o velho edifício da Academia, entretanto transferida para instalações mais modernas), com os espectadores do lado de lá da estrada, e a porta fechada. Uma curiosidade: espera-se e assiste-se à primeira parte mesmo em frente de outra casa abandonada, a de Camilo Castelo Branco no Porto, hoje habitada por uma simpática cabrinha malcheirosa que aprecia festas no alto da cabeça branca!

Os actores são engolidos pelos fantasmas da casa, e seguimo-los depois disso numa viagem de duas horas e meia (corajosos!), bem perto deles, como se fossemos parte da peça, sem descanso, por todas as partes da casa, da escadaria de entrada ao jardim, da sala do director (excelente cena do antigo regime!) a corredores e salas de música, terminando na capela. Viajamos assim pela história da casa e dos seus fantasmas, que é ao mesmo tempo a história do nosso país no século XX, de forma intensa mas subtil, por entre personagens bem delineadas e bem representadas. Viajamos também de um extremo ao outro dos géneros teatrais, terror e comédia, drama e musical, de forma sempre surpreendente, a sobressaltar-nos e a deixar encanto no coração e um sorriso no rosto.   

Tudo isto, uma e a outra história,  têm como fio condutor a Música, essa chave da alma, que acompanha ao vivo a trama da peça e muitas vezes a domina. Música de acompanhamento, música clássica, música infantil, música portuguesa e brasileira... 


Revelou-me depois a Isabel, também ela antiga aluna da academia, outra curiosidade: esta é a história do fantasma privado da Academia, a condessa cujo marido faleceu na noite do casamento, e com o qual os antigos alunos se aterrorizavam mutuamente...

Levei as crianças, como disse, e havia outras que, de início, na escuridão absoluta e maravilhosa impressão de casa do terror com que começa a peça, se assustaram, e depois se deliciaram. Os meus filhos (treze e dez anos) vieram encantados, continuam a falar nisso. Eu também. Deixo aqui um cheirinho.


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